sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Netos da Ditadura

Faça as contas, a ditadura acabou na década de 80, nossos pais vivenciaram a repressão, a censura e o terror. Para nós, filhos e netos dessa ditadura, mesmo com 30 anos de democracia, os reflexos dela se mostram em nosso cotidiano. Cicatrizes, aparentemente, fechadas mas que ainda doem em nossos costumes; o sistema penal, o autoritarismo policial, o messianismo de carreiras militares, esse moralismo que suprime os próprios direitos humanos incrustado nos mais velhos e herdado pelos jovens.

Se essas cicatrizes são como sombras, os desdobramentos são apenas reflexos dessas, que nada fazem além de assustar, como no mito da caverna do Aristóteles, no qual o simples ato de levantar e sair resolve o problema. Mas estamos numa sociedade "livre", ninguém precisa levantar-se e sair andando, mesmo que todos os dias os problemas se repitam, a indignação mostra as caras para um café da tarde junto com o estadoTV, e tudo se repete no próximo dia.

Esses reflexos de sombras se mostram de dia em dia, de mês em mês e, especialmente esse ano, a cada quatro anos uma situação  de indignação é repetida; as eleições. Ahhh como eu adoro chegar nesse assunto, porque não importa o que eu faça, tudo nesse ano ser transforma em um ato político. A cor da minha blusa, o tamanho da minha barba, se uso boina, o que eu acho do bolo de chocolate ou de sei lá o quê. Vale lembrar que não apenas filhos da ditadura, o povo agora é o manifestante, que se cansou de esperar, é o ativo "sociedade acordadora de gigantes". 

Mas o pensamento comum da ditadura,o de se abster, se faz presente novamente. Não sabem como me dói ouvir que familiares e gente querida vão votar branco ou nulo. "São todos ladrões, meu voto não faz diferença" alegam. Como se o fato de não votar os livrasse da culpa de termos péssimos governantes, enquanto na verdade só dá mais valor aos votos corruptos, advindos de compra e suborno. Seu voto pode não definir a eleição, mas a renúncia dele não te torna menos responsável pelo que acontece com ele. 

É melhor lidar com caixas de som, panfletos, gente chata na rua, gente escrota na tv na hora do almoço, estatísticas fraudadas e mais um monte de merda que só se vê nessa época, do que seguir um script, de acordar com medo e dormir rezando para que ninguém próximo suma pela madrugada. E ainda pôr uma máscara de cidadão modelo pela manhã só para não ser o próximo a descer pelos porões da Ditadura.

Felipe Juventude



Post script:
Caso alguém queira saber, vou votar Dilma e Tarcísio. Sei que não são da mesma coligação, e que se ambos forem eleitos, o estado do Rio talvez tenha problemas, mas as opções são escassas. Marina tinha um bom discurso, mas para conseguir apoio político distorceu seu programa político. Ainda vejo marcas de um governo de direita então, nada de votar no Aécio também.

No Rio de Janeiro, votar no Tarcísio é quase um voto de protesto em vista desse monte de corruptos disputando, mas no segundo turno prefiro que o Garotinho saia, independente da segunda opção.

Já para deputados e senador, passarei essa semana estudando propostas e históricos. Lembro-me que ninguém governa sozinho, então escolherei baseado nos meus outros votos. Procurarei aqueles que mostrem algo viável em quatro anos, não para mim, nem para meus amigos e família, mas sim para o país.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Faz: A força e Açucar

Escrevo este enquanto pré-vestibulando, e muito me agoniza essa vida. Não é pressão, mas sim angústia. O que mais machuca nunca é o fato de cair - abre um buraco, quebra um osso, dói para caralho- mas nesse ponto o problema já é palpável; só enfaixar, dormir, passar o satânico metiolate (aquele que arde pa porra) e resolver o problema. Aquilo que machuca é o segundo de insegurança pré queda, no qual as cartas estão todas jogadas pelo ar e não se pode prever o momento seguinte, e esses que compõem o longa metragem aterrador que chamam de vestibular duram horas, dias e meses.

Mas estamos ai, na reta final. Os muitos meses tornaram-se dois, as muitas expectativas só crescem a cada exercício resolvido, a cada segundo estudando.

A maior fraqueza de muitos candidatos é achar que estão sozinhos, que todos ali estão contra ele, como em um filme do xuazinég onde ele mete bala em geral e sai de cena com ares de hellyea. Mas a vida não é um filme e não somos xauzinegs, se geral atirasse como no filme, sairiamos com ares de queijo suíço.

Lembrem-se amigos, se algo nos une mais do que características em comum, é uma vulnerabilidade em comum. Você não está competindo contra tudo e todos, mas tudo e todos estão contigo. Todo mundo estudou e se preparou, mas na hora do vamo ver, tá geral nesse barco, fazendo a mesma prova. E acredite, ele não só pode como vai afundar. E quem sobrevive não é o mais preparado, nem o mais esperto, claro, isso ajuda pa caramba, mas o mais certo de passar nessa brincadeira é quem sabe dançar junto à música.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Aniversário

De novo, esse é mais um texto que fiz para minha família, e tudo que eu escrevo tem pedaço de minha carne com meu sangue, então, se você gosta dois meus textos: divirta-se.

Ai ai caramba,
mais um aniversário dessa minha nega.
Dessa vez um pouco diferente, não é mais o aniversário da minha irmãzinha mais velha; não porque você tomou uma poção mágica do crescimento e então ficou grande, e nem mudaram o números de anos que nos separam; mas sim porque não é mais uma menina, no último ano conseguiu um carro, um teto e até um HA HA HA lepo lepo.

É uma mulher agora, mesmo assim ainda é minha melhor amiga, maior companheira, grande alternativa a domingos tediosos, fiel carona, conselheira, vaquinha no harvest moon, dueto musical, dupla de stand-up para piadas internas, colaboradora nas loucuras, e, acima de tudo, minha nega.

Não te desejo só felicidade, desejo mais, desejo saúde, cartão de crédito ilimitado, uma conta bancária cheia de números, muitos churrascos, jantas, almoços e cafés da manda repletos de boas companhias. Muitos sorrisos sinceros e uma serra elétrica para lidar com as poucas tristezas que ousarem tentar aparecer no caminho. Uma louça suja para seus dias de tédio e um monte de pai para me fazer sanduíches.

Ah, antes que me esqueça, fiz uma descoberta ao ficar tanto tempo longe de você limitado a pequenas visitas no final de semana repletas de risos e coberturas que você diz. Descobri que dá para ser feliz sem você. Mas puta que o pariu, é bem mais difícil. Feliz aniversário molier, que este ano seja melhor que o último!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Em queda

Todos que buscam algum tipo de orientação espiritual, recebem os mesmos conselhos, independente da religião: "se encontre, admire, abra espaço para o novo, ame o próximo". Mas o mundo não me preparou para tal fim. Sou da era da informação, da agilidade, das "respostas na ponta da língua". Não há mais tempo, mesmo com tanto dele livre, não precisamos nos preocupar em plantar ou cuidar de uma vaca a fim de almoçar, temos o, incrível e super, mercado.

A liberdade do tempo inexiste: compromissos, promessas, ambições e outras coisas o ocupam; quando finalmente temos o tão cotado "tempo para si" não sabemos o que fazer dele. O abismo, o qual nos acompanha pelo simples fato de sermos humanos, mostra-se; não temos afazeres para nos apegar e nem ninguém a fim de usar de apoio, então percebemos que estamos nele, sem saber ao certo quando fomos jogados.

O abismo é aquilo que todos nós vivemos. Dizem que a única certeza da vida é a morte, da mesma forma que o abismo é a consequência direta de minha humanidade. Minha consciência. Não escolhemos onde nem de quem nascer, somos jogados em nossos corpos para que lidemos com as coisas mais banais da vida. Aprender. Lidar com ele é algo que podemos adiar, mas não é um compromisso "cancelável".

O que muda não é ele em si, mas a forma de vê-lo. Há aqueles que o veem como um abismo de tédio e de vazio. Essa pessoa reflete-se na escuridão e debate-se em raiva, ódio e desilusão. Não existe ninguém para culpar em nosso interior, as responsabilidades, nossas em essência, saem do amigo de trabalho, das "inimigas" e de Deus. Jogados em nosso próprio abismo. Em queda.

Existe a outra maneira de olhar, não procurar a luz acima de nós, essa se perdeu antes da consciência se formar; nem caçar o fundo do poço, ele está lá, mas não torne isso seu foco, ele não vai mudar de lugar. É possível aproveitar a queda, mas para isso é necessário ter algumas noções, saber que você é só mais um na multidão e que isto é maravilhoso, porque é você, e com ou sem uma religião, um destino ou uma casta, você ainda é você, e todas as oportunidades, falhas, conquistas são tão suas que fez da morte, apenas um passo para a eternidade. Lembre-se que o fundo do poço não é só aquele lugar escuro e úmido, mas também é o lugar onde ao transcender o físico, o próximo passo é o coração da terra.

Felipe Juventude