sexta-feira, 6 de março de 2015

PF: Prato Fast

A rotina é simples. Casa, trabalho, casa, almoço, estudo e de volta à casa, em busca de minhas novelas, telejornais, vinhos, mulher, descanso e conforto. Aliás, preciso parar de ter grandes idéias. Claro, parece uma grande ideia almoçar no shopping depois do trabalho para poupar tempo. Não que eu não goste de comer fora, mas comer sozinho é– além de paradoxal tedioso.

Estou eu aqui no Shopping, a 200 metros de distância do meu trabalho. De lá ninguém almoça aqui, todos ou levam almoço de casa ou almoçam em casa. Não é um trabalho ruim, mas detesto admitir que não ganho o bastante para realizar meus pequenos prazeres cotidianos diariamente, como almoçar hot filadélfias. E realmente parecia uma grande ideia, economizar o tempo da ida até em casa, pois teremos um encontro de grupo no shopping mais tarde, então se eu fosse para casa( provavelmente) trocaria de blusa, faria um sanduíche rápido e sairia comendo ele pela rua mesmo. Ou  perderia a hora. Já entrei em um consenso com o grupo sobre como tratar atrasos maiores que 15 minutos. E se você mora numa cidade movimentada como a minha, sabe que em 15 minutos você anda 15 metros. Se andar. O transito é um inferno.

A primeira coisa que se deve considerar é onde. A medida que você cresce começa a enxergar grandes verdades que antes pareciam apenas frases, como aquela de um cantor brasileiro: "É tanta coisa no Menu, que eu não sei o que comer." Claro, existe o sentido filosófico que se encaixa em uma série de cenários e criam uma reflexão profunda sobre o sentido da vida, mas o sentido literal da frase funciona perfeitamente também. Peguei-me dando uma, duas.. três voltas pela praça de alimentação. Como a hora é de almoço a maioria das pessoas preferem pratos feitos, ou como eles chamam em lugares de renda um pouco melhor, prato executivo. É como o prato feito, só que ao invés do prato estar feito, são os ingredientes que estão feitos, sendo apenas necessário arrumar tudo em um prato.

Apesar do grande número de pessoas comendo arroz e um grelhado, o numero de lugares que parece oferecer esse tipo de serviço é um tanto quanto... limitado. Já o preço é realmente exorbitante. Não é como se alguém gastasse uma média de 30 reais por dia para almoçar. Iriamos todos a falência. Desisti de procurar por qualidade e comecei a procurar por preços, e então descobri o que realmente acontece. Todos aqueles fast-foods não convencionais que vemos por ai se transformam em restaurantes de prato feito. E junto com esses pratos (executivos e feitos) encontro uma inquestionável marca de qualidade: aprovação popular. Quero dizer: fila.

Fila é um dos jeitos mais eficazes de organizar pessoas sem ter de apelar para a lei do mais forte, isso é, se o serviço fosse realizado com a excelência, não de qualidade, mas sim de tempo. Então excluo automaticamente todas as filas muito grandes. São más opções porque além de todo o charme que qualquer fila de lotérica oferece, tenho a incrível opção de roncar enquanto espero. E se vai demorar para pedir, imagine só o quanto vai demorar para o pedido ficar pronto.

Fui parado por uma atendente de um desses Falsos FastFoods que vendem pratos feitos. Um ponto para serviço, por mais que pareça pouco, algumas palavras dirigidas a você no meio de tanta confusão significam mais do que parecem. E o refrigerante é gratis. Não é o PF mais barato do lugar, mas ganha dos incrivelmente cheios já que lá as latinhas custam 4 reais. Pus-me na fila nem tão grande. Fiz o pedido e sentei para esperar o pedido e comecei a ler um pocket.

A vantagem de ler é que se pode prestar atenção ao redor. Pessoas esperando em pé pelo pedido, enquanto amigos de trabalho comentam sobre a atendente  não que ela seja linda, mas mamilos rígidos são mamilos rígidos em qualquer lugar. E é incrível estar no meio de tanta gente e me sentir tão só. Quero dizer, quando se está com muitas pessoas,por definição não está sozinho. Isso definitivamente precisa ser revisto. Prefiro ser esse pequeno modelo observador do que acabar tendo de conversar com algum estranho sobre coisas ralas e vazias, como o tempo ou o quanto eu realmente não me importo com qualquer coisa que ele vá dizer.

Mas o que realmente incomoda é o fato de que todos. TODOS estão com as fuças enfiadas nos celulares. Não só os que, como eu, estão esperando o pedido. Pessoas ficam com seus pratos de comida, garfo e celular na mão enquanto comem. O incomodo não pelo o que eles estão fazendo, mas por como estão fazendo. Podem passar seus dias em computadores e momentos de lazer em seus celulares, mas como podem não aproveitar a maravilha que é o momento de isolamento da sociedade e paz que ele te dá.

Existe uma pequena variedade nessas pessoas, como aqueles que ao se sentar organizam a mesa de almoço para que o celular esteja em um lugar acessível, tem aqueles que não o soltam e tem aqueles que olham mais para o celular do que para o próprio prato. Eu não teria essa capacidade em mil anos. Me sinto ocupado demais enquanto como para fazer qualquer outra coisa.

O numero eletrônico acende, meu pedido está pronto. Se você me der licença, como eu disse, o almoço é um tempo sagrado de reflexão e solidão. Até mais.

Escrito por Felipe Juventude
Num passado longínquo pro meu outro blog
Revisado e Rescrito por Felipe Juventude
Esse tal de Felipe Juventude do passado é um analfabeto
Reescrever deu trabalho
:c

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