sexta-feira, 20 de março de 2015

Segura esse forninho

Se não for pra ser feliz, então para que ser?
Essa é a questão que me assombrou durante os últimos dias, semanas, meses. Não direi anos, até o ano passado(esse texto é de 2014) meu futuro era certo, minha vida era feliz, minha família me apoiava e, como em uma carreira militar, tudo estava garantido.

Mas sabe, tudo correu por água abaixo. Meus pais nunca foram ricos, nunca consegui nada da moda na hora que ainda estava na moda, mas sempre vivi confortável e feliz. A situação nunca foi muito fácil, mas enquanto vovô era vivo, o forninho era mais fácil de segurar, então você junta isso a problemas financeiros, um divórcio, filhos, mudança e boom. Você tem um pequeno retrato do que foi parte da minha vida.

Mas como eu já disse, era feliz. Para tudo havia um jeitinho. Carne nojenta enlatada? Manda refogado até essa porra ficar comestível. Arroz com o fundo queimado? Melhor que o de ontem, amanhã acertamos. Louça pra lavar? Chama o Daniel. Ah joça, ele já foi ontem, minha vez. Dificuldades, das mais simples as complexas estão ai até hoje, nos acompanhando.

Mas o meu mundo caiu. Contrai dívidas( que com jeitinho foram pagas), minha faculdade faliu, e então resolvi tomar uma decisão. Parei de deixar a vida me levar.

Ok, isso funcionou por muito tempo. No final da primeira metade do fundamental, depois de eu ter fracassado miseravelmente (graçadeus) numa prova pro colégio militar, até os dois primeiros períodos da faculdade empurrei com a barriga. E estava bem feliz com isso. Estudei pouco quase nada para passar na faetec. Passei. Estudei pouco quase nada pro tal do ENEM. Passei. Estudei um pouco mais para passar de período. Ok, lá eu já tinha um amor pelo que eu fazia, mas o futuro era nebuloso.

Tinha medo do que viria depois. O mercado de trabalho, tão promissor na área da informatica, parecia fechar as portas para mim. Toda vaga de estágio era para suporte, e todo emprego mais a frente parecia não pagar o suficiente enquanto exigiam décadas de formação pós-graduação por uma jornada levemente desumana. Talvez não fosse tudo tão ruim, mas era como eu enxergava, então realmente era minha realidade.

Mas estava tudo pronto. Era só seguir aquele caminho que a vida seria maravilhosa. Um emprego meia boca que pagasse meus hobbies, tempo para perder em frente ao computador, sair de vez em quando para tomar uma cerveja e dançar. Nada glorioso. Nada diferente do esperado, apenas um futuro comum, para um cara comum.

Mas a chance surgiu, a faculdade estava indo a falência. Era apenas uma questão de tempo e negociações. A faculdade entrou em  um ciclo vicioso de declínio por falta de serviço, quanto mais problemas eram jogados a tona, menos dinheiro entrava no final do mês, e seja lá quem tomou as rédeas estava mais interessado em encher o próprio bolso do que realizar uma boa gestão.

Foi a hora que me percebi com a zona de conforto em risco; poderia continuar lá até a hora que fosse, era bolsista mesmo, na melhor das hipóteses, a única coisa que perderia é tempo, seria só repassar a bolsa para outra instituição. Mas resolvi sair antes do circo fechar e tomei uma decisão. Botei meu futuro que era tão simples, banal e claro em cheque. Decidi que seguiria outra carreira, que enfrentaria os riscos, que entrarei em uma faculdade pública e que irei ao Canadá estudar feito uma vadia. Não abandonei velhos costumes, apesar de já ter entrado em crise com eles.

Agora o futuro é outra vez incerto, e mais uma vez me vejo feliz por isso. Agora posso ir longe, não existe mais aquela perspectiva assustadora de que ali é o fim da linha; agora é só esperar a morte.

Minha vida não é um programa militar no qual eu sigo ordens como um robô e espero ser promovido ao longo dos anos ganhando algum dinheiro e recebendo ordens e me aliviando em cima daqueles que já posso dar ordens.

E não vou terceirizar porra nenhuma. Deus, Oxalá, Doum, Thor, Odin, Shiva, Ala e o caralho a quatro deram sim apoio, suporte e ajuda, mas no final não foram eles que me fizeram sair. Não foram eles que tomaram as decisões ruins que eu tomei ao longo de toda a porra da minha vida. Não são eles que estão desesperados em busca de algum colo para fugir da realidade tão implacável que assola meu mundinho.

Sou eu. Eu que sento e estudo, eu que não vou à aula e assumo minhas responsabilidades. Eu que lido com minhas dificuldades, eu que tomo minhas decisões ruins, eu que pago o preço das ações, eu que colho os frutos, eu que como as porras dos frutos do jeito que eu quiser.

Eu que respiro, vivo, evoluo, aprendo e me jogo em direção a esse abismo que é o futuro. E se é pra se jogar em uma porra dum buraco, para no final estabacar a cara no chão e partir dessa pruma melhor, que seja do melhor jeito possível. Acompanhado de meus guias espirituais, de minha família, de meus amigos, dos desconhecidos do ônibus e de todo mundo o mais.

Porque se não for pra ser feliz, eu não quero ser. E estando no inferno, por que não dar um abraço no capeta e aproveitar o momento?

(Esse texto é de 2014, lá na metade, acabou que eu passei para a faculdade, e estou aqui agora. Morando longe de casa, dos meus pais e dos meus irmãos, longe das antigas amizades, mas ainda ""perto"" de um tio caso o mundo exploda eu tenha um lugar para correr e filar almoço no domingo. As dificuldades continuam, eu continuo me fudendo e no dia que eu programei esse texto pra ser publicado eu não sei direito o que vai rolar. Mas a parte boa é que vai rolar.)

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