sexta-feira, 4 de julho de 2014

Viler

Ler é essencial. 
Para se guiar, localizar e entender. Toda história pode ser contada, mas se assim for feito, muito do contador é passado nela. O tom de voz, o tempo, a opinião. É isso que ler proporciona. A crônica é a mesma, os personagens, as descrições e a sequência de fatos também.

Toda leitura é uma releitura, alguns incrementam ação e emoção ao ler velozmente, enquanto outros adicionam drama com pausas e calmarias. Ler não é só pegar um conjunto de períodos e reproduzi-los em alto e bom tom.

Ler é inter viver, inter sentir, interpretar. Amar um, odiar outro, por seus motivos e crenças, que só dizem respeito a você. Mas também não muda só a história, como também o leitor dela. Crônica, reportagem, editorial ou quadrinho, todos trazem um conhecimento, mais ou menos subjetivo, e esse conhecimento não só adiciona novos argumentos ao leitor; também altera os antigos. O que gera um constante feedback, que não apenas apresenta coisas novas, mas abre portas para a reinterpretação,  um novo significado para um velho texto no qual limite ainda é desconhecido.

Livros são presentes valiosos enquanto vivos. Eles podem não respirar, mas reproduzem conhecimento e estão em constante evolução simbiótica com o seu portador, já que ele abre seu botão de conhecimento em um infinito mar de pétalas a medida  que o leitor o explora e reexplora. Assim como eles vivem, eles também morrem. Não transforme sua estante em um cemitério de livros, com velhos volumes que as vezes foram lidos uma vez e depois abandonados.

Caso haja interesse, guarde-os, livros não são ateus, eles não vão apenas decompor após a morte. Livros são guerreiros do Valhalla que bebem e comemoram em suas mortes, se aperfeiçoando apenas para que sejam convocados para exprimir os seus novos sentidos antes escondidos. E se não houver interesse, seja sincero consigo. Empreste, doe, divida. Desapega, você não quer nada com ele, parece não oferecer mais nada. Desapega, se você quer que seu filho leia no futuro tire uma porra duma xerox, compre uma versão digital ou recompre o livro.

E depois de adquirir esse conhecimento, ponha-o em prática. Se os livros são vivos como flores, a mente que os lê é viva como os sentidos usados para apreciar a forma, a cor, a textura, o perfume e a beleza única do som de ventos que passam entre elas sob o orvalho da manhã. E bem, como os livros, a mente também morre. Ela não se decompõe ou decrépita, ela apenas fica em repouso. Torna-se um robô, com respostas rápidas e pré-programadas pela moral, bons costumes e senso comum. E uma mente robotizada gera uma pessoa morta-viva, que faz o que lhe é mandado enquanto única ambição é sanar suas necessidades básicas. Um funcionário modelo.


Tenha sua opinião e faça uso dela.
Leia-a, Fundamente-a, desenvolva-a. Explique-a, analise-a, molde-a.
Releia-se.


Felipe Juventude

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