sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Sinais

Aqui vai uma crônica. Gosto de escrevê-las, são leves e divertidas de digitar. Sem muito compromisso, mas sempre tentando mostrar o melhor dela. Facilmente escreveria sobre o assunto em meus textos comuns, mas a crônica dá a forma e o contexto do cotidiano à minha filosofia. É sempre mais fácil ver o mundo em movimento do que ter de imaginá-lo girando. Aproveitem.

- Mas que merda! - Exclamou a motorista ao ver que no horizonte um semáforo trocara de verde para amarelo. Dizem que carioca não gosta de sinal vermelho, e aquela ali era uma das que justificavam tal generalização. Não que ela fosse um alguém tão estressado todo o tempo, dificilmente se preocupava com eles; ignorava-os veemente. Mas aquele era diferente e a cobrança do DETRAN dentro da bolsa a lembrava muito bem disso.

Praguejava alto, ninguém estava junto dela nesse momento, resolveu logo extravasar o ódio e a raiva que vinham do cotidiano. Sentiu-se bem, normalmente não tinha tempo para xingar aos sete ventos, não que tivesse tempo algum para qualquer coisa. Acordar, ficar linda, comer de forma saudável, enfrentar o trânsito e trabalhar já tomava tudo o que tinha. Marido e filhos? Deus a livre, mal conseguia se divertir; os finais de semana eram quase que exclusivos para dormir e arrumar a casa.

Olhou impaciente para seu relógio; sem sombra de dúvidas se atrasaria para o compromisso, mas ainda não estava disposta a ganhar nova correspondência para chegar "menos atrasada", no fim das contas, estaria atrasada de qualquer forma, então desviou o olhar para a janela e viu o vento bater descompromissado na árvore que parecia não ligar para aquelas crianças brincando em seus galhos, como um guardião. Crianças tão felizes, ignorantes dos horrores da vida ou inocentes, você decide. Mas é inegável a pouca responsabilidade empregada em como elas gastam seus preciosos minutos que não voltam, e ela começou a lembrar um tempo que também não volt...
BIIIBIIIBIIII -O SUA PIRANHA MALUCA, O SINAL ABRIU, VAMBORA AI.- Exclamou outra pessoa, provavelmente outro carioca que já estava puto com o sinal vermelho e ainda por cima tinha uma mulher apreciando a paisagem só para atrasar o dia dele. Super aceitável. Já ela, acordou do leve sonho e voltou a realidade. Feliz por conseguir andar naquela cidade de trânsito caótico e honrar seus compromissos, mas um pouco melancólica e nostálgica.

Normalmente era bem exigente em seus pedidos; o celular da moda, um grande anel de brilhantes, sapatos, viagens e vestidos. Mas naquele momento, tudo o que queria, era mais um sinal vermelho.

Felipe Juventude

PS: Exclusivamente na próxima semana, o texto será publicado domingo. Grato pela atenção

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